Amores,
Espero que tudo esteja bem com vocês. Eu confesso não estou muito bem… Acordei hoje com uma América diferente daquela que eu fui dormir ontem a noite, uma América que preferiu eleger um homem misógino, incompetente e racista para ser o nosso Presidente nos próximos 4 anos.
Um homem que prometeu vingança aqueles que lhe questionaram caso fosse eleito; um homem que prometeu “acabar” com os muçulmanos; um homem que se negou a alugar apartamentos para minorias (negros e latinos) durante décadas; um homem que foi acusado de assédio sexual por 11 mulheres; um homem que esta sendo processado pelas falcatruas da sua Trump University; um homem que acredita que mexicanos são traficantes e estupradores; um homem que, claramente, não é e nunca foi capacitado para exercer um dos cargos mais importante do mundo, cargo onde inteligência, conhecimento, diplomacia e experiência são requisitos básicos -que julgando o que ele fez até hoje nestas eleições e na sua vida pública- que ele claramente não possui.
Presidente eleito a parte, é bem difícil colocar em palavras o que isso tudo significa para mim, uma mulher negra, imigrante, naturalizada americana, com um marido igualmente imigrante. Qual a mensagem que estas pessoas que votaram em Trump -entre elas KKK e grupos brancos supremacistas- querem passar, e a pergunta que não quer calar é: como eles veem a mim, meu marido e meu futuros filhos? Fazemos parte da fábrica desta sociedade, esse caldeirão étnico que é a América ou não somos bem vindos aqui? Com o bully no poder, seus seguidores mais radicias vão se sentir legitimizados nas suas teorias toscas e retrógradas, sem falar no comportamento violento de tantos?… Quando o presidente é o bully-in-chief, quão seguros estamos?
Hoje temo não só por mim, mas pela comunidade LGBT, pelos muçulmanos, latinos e imigrantes de todos os países que estão em situação incerta. Tenho medo do que esta por vir no dia 1º de Janeiro, quando o novo presidente eleito tomará posse. Com um Congresso e Senado tomado pelo partido Republicano, e a grande possibilidade de um juiz Republicano e conservador no Tribunal Superior, é assustador ver tanto poder concentrado em um único partido, partido este que se radicalizou e é indiferente as necessidades das minorias.
Por causa de todos esses pensamentos e outros ainda mais sombrios que eu prefiro não escrever aqui, estou com um nó na garganta. E estou exausta e emocionalmente arrasada.
Mas espero que passado este choque inicial, daqui alguns dias, eu e todas as pessoas que neste exato momento estão se sentindo extremamente inseguras, possamos retomar nossa vida, e obviamente com uma enorme diferença: lutar pelos nossos direitos se tornou uma obrigação. Não tem como fugir desta realidade.
Não podemos mais dar espaço para pessoas “do mal” que nada querem além da aniquilação daqueles que eles não reconhecem como seu semelhante. Lembre-se: se você vê alguém fazendo ou falando algo errado e não se manifesta, você é parte do problema. E isso vale para todos, brasileiros e americanos, minorias ou não.
Em 2018 o Brasil vai eleger um novo presidente, e que o que aconteceu hoje aqui sirva de lição para todos nós: não subestime o seu oponente, não importa o quão inadequado, absurdo e patético ele seja. Uma grande parte das pessoas podem se identificar com ele.
Tudo o que é necessário para que o mal triunfe é que os homens bons se calem.
Um beijo da Preta